quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A Via-Sacra médica inicia-se...


Minha mãe chegou à faculdade , tive que ser carregada por três pessoas até o carro onde mamãe estava parada em frente ao portão principal, não sentia mais minhas pernas, era impossível caminhar sozinha.
Entrei no carro e por incrível que possa parecer Ela me olhou com um sorriso nos olhos e lábios, era um sorriso confortador de quem sabia o que estava se passando comigo, inevitavelmente comecei a chorar, aquela sensação era desesperadora demais para mim, eu ainda acreditava que iria dessa para uma melhor à qualquer momento.
Mamãe foi dirigindo em direção ao hospital, o caminho parecia ser mais longo do que realmente é, e o desespero foi aumentando, não sabia ao certo o que estava acontecendo comigo, na minha cabeça eu estava tendo um ataque do coração ou algo parecido. Mas que ataque era esse que não passava, mas também não piorava, nada acontecia, nem um desmaio sequer, apesar da forte sensação de síncope. A única coisa que piorava mesmo era aquele sentimento de horror dentro de mim.
Chegamos ao hospital, e naquele momento senti um pequeno alívio por saber que me encontrava em um local onde poderia ser socorrida por pessoas que sabiam o que eu tinha ou que tentariam descobrir.
Entrei na recepção do pronto-socorro praticamente carregada por minha mãe, todos que lá estavam voltaram os olhares em minha direção e neste exato momento mais uma onda de pânico e terror tomou conta do meu corpo, aquele mal-estar louco tinha voltado com tudo. Me debrucei no balcão de atendimento da recepção e disse com voz ofegante quese sem ar:
- Por favor, é urgente, me atenda agora, estou morrendo!
Meu coração quase saiu pela boca neste momento.
As enfermeiras me encaminharam à sala de triagem do pronto-socorro onde seria medida minha temperatura e Pressão Arterial. Sentei na cadeira, a sala estava vazia e lá se encontrava apenas eu e uma enfermeira que me olhava muito assustada, mamãe estava na recepção abrindo minha ficha. A enfermeira questionou enquanto tirava a minha temperatura:
- O que a senhora está sentindo?
E eu respondi com voz chorosa sem saber o que responder na verdade:
- Não sei, só sei que não quero morrer!
Assustada, a enfermeira não falou mais nada e começou a tirar a minha pressão. Lembram-se quando falei no post passado que a enfermeira da faculdade fez eu baixar a cebça pensando que eu havia tido uma queda de pressão? Pois é... minha pressão estava 16X10 mmHg, muito alta para minha idade e para qualquer pessoa na verdade, o normal como todos sabem é por volta de 12X8 mmHg. Na mesma hora a enfermeira gritou, encaminhem-na para a Cardiologia. Pensei:
" Cardiologia? Meu Deus eu estou mesmo tendo um ataque cardíaco!"
Pronto, foi a gota d´água para meu desespero ir ao ápice total, comcei a chorar, esperniar, e pedir para não morrer. O médico demorou um tempo para me atender, ele estava em uma emergência. Essa demora foi eterna, eu agarrava minha mãe com a sensação de que ela impediria de que algo muito ruim acontecesse comigo.
O médico chegou, chamou outra pessoa que estava na minha frente, me desesperei, porém momentaneamente, a pessoa percebeu meu estado e pediu para que o médico me passasse na frente dela, nem consegui agradece-la, não tinha cabeça para isto naquele momento. Entrei no consultório, sentei na maca e disse pela milésima vez no mesmo dia:
- Doutor me ajuda, não me deixa morrer, por favor faça algo!
E ele disse:
- Fique calma, você já está no hospital, eu sou o médico e aqui nada de ruim irá acontecer, estou aqui para te ajudar!
Hoje percebo que este médico tinha uma certa psicologia e desconfiança do que eu realmente tinha.
Me examinou e auscultou meu coração que estava aceleradíssimo e imediatamente me encaminhou ao exame de eletrocardiograma. Deitei na maca para o exame e percebi que não conseguia parar de tremer, e o pior era que precisava ficar imóvel para a realização do exame. Nossa, foi muito difícil! Na mesma hora o médico disse:
- Raquel, seu coração está normal, só está acelerado, como se você tivesse levado um susto muito grande. Mas fique tranquilo que você não está tendo um ataque do coração!
Fui encaminhada à sala de observação, onde fiquei um tempo deitada tomando soro na veia e tomei um calmante prescrito pelo mesmo médico. Passados 30 minutos eu estava leve novamente, até com sono, uma sensação de cansaço e ao mesmo tempo de grande alívio, como se tivesse tirado um peso muito grande de mim!
Foi feito outro eletrocardiograma antes do doutor me dar alta, já neste exame meu coração estava normalíssimo, perfeito! Mas, antes de sair do hospital o doutro me recomendou:
- Vá para casa e descanse. Depois marque um cardiologista e peça exames de sangue e ecocardiograma para tirar qualquer dúvida existente, porém em meus anos de prática clínica observo que seu caso está mais direcionado à Psiquiatria, marque uma consulta com um Psiquiatra também, irá te ajudar. Uma coisa tenho certeza, você acabou de ter uma crise de PÂNICO!
Continua...

2 comentários:

Anônimo disse...

Amiga, vc teve muita sorte de entenderem seus sintomas...
Passei anos "pulando" de médico em médico, neurologistas, cardiologistas, endocrinologistas, entre muitos outros, até descobrir, "futricando" na internet, que só podia ser SP... Pior ainda foi o ceticismo de muita gente da família, que achava que aquilo era uma forma de chamar atenção, ou que eu tinha assimilado os sintomas após ler sobre o assunto... Minha mãe demorou um pouco para se convencer, acho que tinha medo desse "problema descnhecido" que invadiu a família...
Finalmente começarei uma terapia, após mais de 5 anos de pânico... Espero finalmente me livrar de todo esse sofrimento...

Cris disse...

Nossa, você descreveu exatamente as sensações... Ui! péssimo mesmo né? Mas sou feliz, apesar dos pezares! Um dia, a gente se livra desse karma.